Era uma quinta-feira, o dia que Douglas Adams acredita que tudo acontece. O cansaço da semana já se acumulava pra Clarissa e Hebert, um jovem casal sem muito planejamento, coragem, disposição ou crença. Episódios assustadores acontecem com mais frequência com esse tipo de gente, que vive no automático.
Hebert estava na cozinha bebendo um copo d'água quando viu Clarissa sair do quarto de bagunças fechando a porta com todo cuidado pra não fazer barulho. Ela foi pra cozinha e, enquanto se servia um outro copo de água comentou:
- Já coloquei as crianças pra dormir. Acho que vou tomar um banho pra descansar um pouco.
"Hmhm" disse Hebert com a boca no copo no meio de um gole. Sentiu uma dor de cabeça repentina, que julgou ser pela água gelada. Mas ficou um tempo olhando um quadrinho pendurado na parede com uma sensação confusa na cabeça. O quadrinho era algum amuleto religioso que sua avó lhe dera, mas que ele preferia enxergar como enfeite, afinal nada daquilo fazia sentido. Deu de ombros e foi pro quarto.
Ele e a esposa se despediram como faziam todos os dias antes de cada um virar pro seu lado da cama e dormir. Já era alta madrugada quando Clarissa acordou de repente, imóvel de medo, apenas com os olhos arregalados e sussurrou:
- Hebert! Está acordado?
"Hmhm" disse o marido sem interesse.
- Hebert, nós não temos filhos!
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